Wednesday 17 December 2008

A cidade de Eastbourne

Eastbourne City

2002 foi um ano que passou praticamente desapercebido. Talvez pelo fato de eu estar muito focado nos objetivos. Estudar e trabalhar eram as prioridades. Na época eu pensava diferente, mas hoje, olhando para trás, foi um preço muito caro jogar tudo para o alto: A VIDA BEM NADA MOLE PIAUIENSE BRASILEIRA. E eu que o diga: “água mole, pedra dura tanto bate até que molha toda a pedra”. Simple as that! Conhecer outros lugares fora de Londres estava meio fora de cogitação. Até porque eu trabalhava sempre nos fins de semana. Mas teve um convite que eu não pude recusar. Dois amigos romenos que moravam no mesmo prédio me convidaram para conhecer o litoral sul de carro. Um deles tinha comprador um carro recente e queria explorar as “motoways” (as BRs da vida). Detalhe: A direção dos carros ingleses são do lado direito. O romeno não tinha experiência nenhuma e eu não sabia disso. Só me falaram quando já estávamos no meio da estrada. Imitando o amigo paulista: Karalhooooo!!!! Enfim, fazer o que né? Relaxar e goztar! Graças a Cristo, tudo correu bem. Chegamos na cidade de Eastbourne ao sul da Inglaterra, depois de quase 2 horas de viagem. A primeira coisa que eu observei foi “aposentados”. Logo descobri de fato que a cidade foi naturalmente povoada por pessoas idosamente geriátricas. A cidade é tranquila e aconchegante. Limpa e acima de tudo, perto do mar. O sonho para pensionistas. Mas se você acha que vai ver altas gatas popozudas de fio dental sentadas em bugres subindo e descendo dunas, passeando prá lá e prá cá como se estivessem em uma praia qualquer do nordeste ou mesmo em Ipanema, está muito enganado. Apesar de fazer sol forte no verão, ninguém usa biquini. Em vez de areia, a praia é feita de pedras-sabão. Se você caminha em cima das pedras com os pés descalços, a única coisa que vai ganhar com isso, são bolhas nas patas. A água, por exemplo,se quiser mergulhar, virará um picolé da Kibon sabor groselha. Tem gente que tem coragem! E ainda gritam alto: It’s refreshinggggg!! (Isso está refrescante!!). Eles que não conhecem o bom da vida. Nas praias do meu querido Piauí até de noite, você pode banhar e nadar nas águas mornas da nossa amada costa atlântica de 66 quilomêtros. Oohh! saudades do meu Piauí. Do sol, do mar, do céu azul! Nostágia pura agora! Enfim, eu não deixarei de mencionar quando que, em julho de 2002, eu e uma turma de amigos fomos trabalhar no Palácio de Buckingham. E ao santo gerente da nossa empresa , que reafirmou que mandaria os melhores garçons("waiters") que tinha. Eu estava na lista. Com a confirmação devidamente checada, eu senti com se eu tivesse concluído meu "Bacharelado em Garçon". Seriam 3 dias de festa no jardim principal do palácio. Quando eu cheguei na porta de entrada dos empregados, tinha um batalhão de policiais. Trabalhavam com se estivessem checando babagens no aeroporto. Eu não acreditei que tivesse tanto...

Tuesday 9 December 2008

11 de setembro de 2001


September 11


Aconteceu uma catastrófe. Eu não sabia o que fazer. Os pratos foram deslizando lentamente dos meus dedos. Eu estava no meio do salão. Para não deixar os dois pratos se espatifarem no chão de vez e acontecer o pior, eu juntei os pratos numa pilha só, amassando a carne, o puré e os legumes que estava no prato de baixo. Eu só ouvi um sussurrado grito em português nítido do gerente paulista: Caralho! Não acaba com minha festa. Caralho! Volta direto prá cozinha. Caralho isso! Caralho aquilo!E eu me perguntando: caralho! O que é que eu estou fazendo aqui? Quando cheguei na cozinha, um garçon que estava atrás de mim e viu tudo, ajudou-me e entregou os pratos para o chefe de cozinha falando que tinha acontecido um acidente com um dos convidados livrando minha cabeça da amolada faca dele. Eu me sentei. Continuava tremendo. Tomei uma água, e me afastei da fila. Eu não ia continuar. A palavra “caralho” ficou martelando no meu pertubado cérebro. Um outro garcon, que hoje, é um grande amigo, disse: Pedro, não se preocupe. O gerente paulista não está furioso com você. É o trabalho dele que está em jogo. O jantar continuou sendo servido, não por mim, claro. Logo que terminaram de servir o prato principal, o gerente paulista se aproximou e falou quase rindo: você continuará! Volte prá sua mesa e continue servindo vinhos e quando os convidados terminarem de comer, limpar os pratos da mesa, mas dessa vez, sem deixar cair. E riu copiosamente. E complementou rindo: E depois, servir a “sobremesa” sem deixar cair, caralho! Nesse dia, eu nunca ouvi tanto caralho na minha vida. Depois do desastre, eu comecei apreciar a festa e ficar orgulhoso por ter continuado o serviço. Eu me sentia como se tivesse passado no vestibular no curso: “Bacharelado em Garçon” com a opção:” Inglês”. Daí por diante, eu passei a fazer regularmente o trabalho de garçon como se tivesse indo para universidade. Aprender coisas novas, nunca é fácil, mas também não é impossível. Eu tentei fazer um esquema como aprender inglês do cotidiano, observando objetos que fazem parte de um restaurante que sempre a gente acaba esquecendo quando estudamos no colegial. Palavras simples como: talheres – cutlery, guardanapo –napkin ou souviettes, pano de mesa – tablecloth, colherinha – tea spoon e assim vai. O esquema era o seguinte: Todo dia eu aprendia 1 palavra e ficava repetindo ela o dia inteiro até chegar ao outro dia para mudar de palavra. Eu pensei: se eu conseguir fazer o esquema, eu aprenderei 365 palavras em 1 ano. A teoria era boa, mas a prática foi para o brejo. No final das contas, eu devo ter aprendido muitas palavras, mas eu sou um cara que não sigo muito à risca à esquemas pré-feitos. Mas a idéia era boa. Fiz uma nova adaptação ao esquema e de novo pensei: se cada palavra desconhecida eu ler em outdoors, eu iria anotar num bloco e procuraria no dicionário depois o significado. Novamente o sistema falhou! O bloco até hoje deve está em branco e nunca viu a cor verde-esperança da caneta bic. Mas os dias foram se passando na velocidade de uma indesejada diarréia, e eu absorvendo o idioma e a cultura com uma esponja . O verão estava acabando, e a natureza faria o seu papel de mãe. As folhas das árvores começavam perder a força da fotossíntese e ameaçavam a amarelar. Era começo de setembro de 2001. O ano. O mês. E o dia que o mundo jamais esqueceria e não esquecerá por muitos e muitos tempos. 11 de setembro. Um dia triste para a estória da humanidade. O dia em que os terroristas do Taliban atacaram a América. Eu acordei no meu cotidiano. Eu peguei o trem. Fui para o trabalho. O dia começou normal. Iria ter uma grande evento a ser realizado no Lords Cricket Ground. Muita coisa para preparar. Polir pratos, copos e talheres. Organizar mesas e cadeiras. Enfim, deixar tudo pronto para a noite. Quando os terroristas atingiram umas das torres do World Trade Center a notícia em Londres foi imediata. Todos os canais de tv fizeram cobertura total. Os principais prédios da cidade foram evacuados em tempo recorde. Os ingleses deduziram que os ataques terroristas não ficariam apenas na américa. Mal saberiam eles, que os ataques à Londres estariam premeditados para 4 anos depois, em 2005, quando os terroristas explodiaram o metrô e ônibus. Nesse dia tenebroso, todos os funcionários de todas as repartições, foram mandados para casa. A confusão na cidade era geral. Enfim, não teve trabalho. Não teve festa. Todos os transportes lotados. Estava um caos. Todo mundo querendo ir para o “ lar doce e protegido lar”. Eu também! Passados dias tudo foi se acalmando mais. Mas situação econômica do país mudou da água para pinga, para não dizer vinho. Tudo piorou. Parecia que uma grande recessão tinha chegado. Ninguém entrava no país facilmente. No trabalho, até a situação voltar ao normal, levou tempo. e para alegrar um pouco a vida de cada um, o natal chegou com suas festividades e eu nunca tinha visto tanto bombardeio de propagandas de natal. Até parece que os ingleses são masoquistas e curtem tortura sonora com as músicas de noel. A ornamentação natalina é um espetáculo a parte. Por todos os lados, iluminados galhos secos brilham nas árvores, prédios reluzentes em multi-cores. Em uma das praças principais de Londres, a " Trafalgar Square" é fincada no chão, uma árvore natural gigante(foto acima) que é enviada todo ano pela Noruega como um presente. Depois do natal, a semana passou rápido já pedindo para virar de ano. "Splash out some champagne, please!!!!!" Na verdade, eu passei o reveillon trabalhando como garçon. Uma amiga paulista(Ps. Perceberam que paulistas estão participando ativamente desse blog?) me chamou para trabalhar com ela. Era uma festa para 1.500 pessoas. 150 mesas. 150 garçons. Com tanta gente na festa, a roupa de garçon(calça preta, camisa branca e a gravata-borboleta virou o famoso o meu famoso "black-tie". Eu fazia de conta que era um convidado também. Na hora da contagem dos segundos, eu e minha amiga bebemos todas e caimos na folia junto com os convidados dançando. Bye bye 2001!!! Happy New Year!! Viva 2002!!!!! O ano só estava começando, prometendo mil e umas ...

Tuesday 2 December 2008

O primeiro emprego

The first job
Eu precisava frequentar uma escola o mais rápido possível. Quando eu comecei a estudar era uma escola “de grátis”. Os alunos internacionais eram as “cobaias” dos professores aprendizes que eram simuntâneamente, alunos do último ano das universidades de Licenciação da Língua Inglesa. Para mim, não me importava ser uma “cobaia”. Para quem não sabia falar absolutamente nada em inglês, qualquer injeção de sabedoria na testa e uma gota de aprendizado no olho, eu aceitava e agradecia. Foi um experiência excelente já que tive à oportunidade de conhecer várias pessoas de outros países que estavam na mesma situação que a minha, ou seja, um analfabeto em inglês. O interessante disso tudo era quanto mais cedo o aluno chegasse na escola, mais chances o mesmo tinha condições de participar das aulas e por isso, cada classe era diferente de um dia para o outro. Bem peculiar! Quando chegou a época para aplicar para o visto de estudante, eu tinha que me matrícular numa escola reconhecida, respeitada mas que fosse barata. E foi isso que eu fiz. Em 2001, já tinha muita escola ganhando muito dinheiro com estudantes internacionais. Era como se tivessem achado no meio dos prédios milenares de uma velha Londres, a galinha dos ovos de ouro com diamantes cravejados. Depois de um incessante pesquisa, encontrei uma escola chamada St Patrick. indicada por um colega e que fica bem no miolo do centro de Londres. Eu me matriculei no horário da tarde, mas disso tinha um único propósito: Pagar mais barato. Geralmente os estudantes trabalham como waiters(garcons) para se sustentar. Mas a melhor hora de estudar é o horário matutino. Explico: Qual é a hora do dia que um restaurante possivelmente ficará mais cheio? Ou que vai ter mais gorjetas? De 11:30 da manhã até às 4:00 da tarde. Por isso, a maioria querem estudar de manhã, para depois irem trabalhar. No meu caso eu optei o contrário. Pagar mais barato e trabalhar a noite, ou trabalhar em hotéis no café da manhã. Eu comecei a trabalhar para uma agência de festas. No geral, eu trabalhava em um lugar específico, mas ocasionalmente, a agência mandava os funcionários para os lugares mais longíquos. No início era tudo “FUN”( brincadeira). E na minha brincadeira de ciranda cirandinha, eu era, ou melhor, a maioria era, uma espécie de “ Maria vai com as outras”. Nesse lenga-lenga, quer queira ou quer não, eu fui conhecendo muita gente. Pessoas que deram muita força e pessoas que tiraram muita força. E aprendi um lição de vida: Seja sempre uma pessoa positiva, alegre, alto-astral e de bem com a vida, e sempre leve isso com você para qualquer lugar que for, nem que seja 1 kilomêtro de sua terra natal. Como diz um amigo meu: Negativismo! Afaste-se de mim! Pelos poderes de Greicekon! Eu tenho a força! Mas é claro, ninguém é “perfeito”. Todos nós temos alto e baixos, mas algumas pessoas têm o ponteiro da balança mais para o baixo. Tive sorte. A maioria era gente boa. Enfim chegou o meu primeiro dia como garçon. Eu fui convidado para trabalhar por um paulista que até então era ainda um recente conhecido, mas logo, ficamos amigos. Ele era supervisor. Nessa particular noite, teria um jantar muito importante, num lugar muito importante(foto acima), com pessoas muito importantes feito para uma pessoa muito mais que importante da sociedade inglesa. O convidado especial era o ex-primeiro ministro britânico John Major. Seria um oportunidade única para eu mostrar como eu era um verdadeiro desastrado. Que minha família o diga! O lugar se chama Long Room - Lords Cricket Ground. O Salão é espetacular. Nas paredes, enormes pinturas de jodadores de cricket com molduras douradas, ostentando riqueza. O teto cuidadosamente arquitetado, moldado e desenhado em detalhes, com suas glamorosas luminárias de luzes baixas. O chão parecia um espelho de tanto reluzir. Eram 15 mesas cuidadosamente decoradas para 150 convidados para 15 garçons. Cada cadeira era meticulosamente posta e nomeada para determinado membro da festa. Absolutamente tudo estava perfeito. Antes da festa, eu tentei aprender a servir como a sociedade espera de um bom “waiter”. Servir propriamente. Saber onde vai os garfos, facas e colheres, inclusive a faca exclusivamente para cortar queijo com figos e uvas. Copos de champagne, copos de vinho branco, copos de vinho tinto e copos para água. Saber a posição de absolutamente tudo sobreposto à mesa milimetricamente medida. Na recepção, foi servido champagne. Tínhamos que segurar pesadas bandejas com copos cheios de champagnes, suco de laranja e água por mais ou menos 1 hora. Detalhe: tinha que descer uma escada com a bandeja cheia para se posicionar na porta de entrada. E outros detalhes tipo: Que o vinho branco é para “entradas” ou peixes, o vinho vermelho é para o “prato principal” ou carnes vermelhas. Saber que quando serve o prato ao convidado, é pela direita. Depois deles comerem, verificar se talheres estão postos no centro, se sim, é o sinal que o convidado terminou e para retirar o prato da mesa é pela esquerda e empilhar cada prato em cima do pulso direito(10 pratos), e colocar os garfos e facas cruzadas para ter a certeza que não vão cair no chão. Somente pode limpar a mesa se realmente todos terminaram senão, tem que esperar ou continuar servindo vinho. Não pode encher o copo. É falta de educação. Não pode conversar com o outro garcon. É falta de educação. Não pode respirar. É falta de educação. Quando a recepção começou a única coisa que eu pensava era se alguém ia me perguntar alguma coisa banal e não saber responder, tipo: Onde é o toilete? Tentei ficar calmo, mas a bandeja não estava nada calma. Os copos de champagne tremiam. Os convidados chegavam lentamente pareciam a eternidade. Eu já não via a hora deles pegarem os copos e aliviar o peso da bandeja. Terminada a recepção e os convidados todos postos à cada mesa, eu pensei: passei no primeiro teste. Não quebrei nenhum copo e nem caí da escada. Corremos diretamente para o salão para server o vinho branco e pão. Eu nervoso, tremia com a garrafa na mão, mas continuava a servir. Voltamos para cozinha onde os nervosos chefes de cozinha, gritavam sem parar. Era a hora de servir a entrada. Os garcons fizeram um fila indiana para ficar tudo organizado. O gerente paulista estava perto da “top table”(mesa do John Major), para primeiro servir ele. E fomos enfileirados feito uma serpente deslizando entre as mesas. Tudo acontecia na mais perfeita ordem. Quando terminaram a entrada, eu limpei os pratos da minha mesa de forma confidente de que eu não ia deixar cair nenhum garfo ou faca. Levei os pratos para cozinha. Voltei ao salão para servir o vinho vermelho, para depois voltar para cozinha e estar pronto para servir o “prato principal”. Detalhe: O prato estava muito quente. Tínhamos que usar lenços para proteger os dedos para não queimarem. Os chefes loucos gritando, falavam para ir imediatamente para salão levando os pratos quase fervendo, e quando foi minha vez, eu com os pratos quentes na mão no meio do salão, aconteceu uma catastrófe. Eu …