Tuesday 9 December 2008

11 de setembro de 2001


September 11


Aconteceu uma catastrófe. Eu não sabia o que fazer. Os pratos foram deslizando lentamente dos meus dedos. Eu estava no meio do salão. Para não deixar os dois pratos se espatifarem no chão de vez e acontecer o pior, eu juntei os pratos numa pilha só, amassando a carne, o puré e os legumes que estava no prato de baixo. Eu só ouvi um sussurrado grito em português nítido do gerente paulista: Caralho! Não acaba com minha festa. Caralho! Volta direto prá cozinha. Caralho isso! Caralho aquilo!E eu me perguntando: caralho! O que é que eu estou fazendo aqui? Quando cheguei na cozinha, um garçon que estava atrás de mim e viu tudo, ajudou-me e entregou os pratos para o chefe de cozinha falando que tinha acontecido um acidente com um dos convidados livrando minha cabeça da amolada faca dele. Eu me sentei. Continuava tremendo. Tomei uma água, e me afastei da fila. Eu não ia continuar. A palavra “caralho” ficou martelando no meu pertubado cérebro. Um outro garcon, que hoje, é um grande amigo, disse: Pedro, não se preocupe. O gerente paulista não está furioso com você. É o trabalho dele que está em jogo. O jantar continuou sendo servido, não por mim, claro. Logo que terminaram de servir o prato principal, o gerente paulista se aproximou e falou quase rindo: você continuará! Volte prá sua mesa e continue servindo vinhos e quando os convidados terminarem de comer, limpar os pratos da mesa, mas dessa vez, sem deixar cair. E riu copiosamente. E complementou rindo: E depois, servir a “sobremesa” sem deixar cair, caralho! Nesse dia, eu nunca ouvi tanto caralho na minha vida. Depois do desastre, eu comecei apreciar a festa e ficar orgulhoso por ter continuado o serviço. Eu me sentia como se tivesse passado no vestibular no curso: “Bacharelado em Garçon” com a opção:” Inglês”. Daí por diante, eu passei a fazer regularmente o trabalho de garçon como se tivesse indo para universidade. Aprender coisas novas, nunca é fácil, mas também não é impossível. Eu tentei fazer um esquema como aprender inglês do cotidiano, observando objetos que fazem parte de um restaurante que sempre a gente acaba esquecendo quando estudamos no colegial. Palavras simples como: talheres – cutlery, guardanapo –napkin ou souviettes, pano de mesa – tablecloth, colherinha – tea spoon e assim vai. O esquema era o seguinte: Todo dia eu aprendia 1 palavra e ficava repetindo ela o dia inteiro até chegar ao outro dia para mudar de palavra. Eu pensei: se eu conseguir fazer o esquema, eu aprenderei 365 palavras em 1 ano. A teoria era boa, mas a prática foi para o brejo. No final das contas, eu devo ter aprendido muitas palavras, mas eu sou um cara que não sigo muito à risca à esquemas pré-feitos. Mas a idéia era boa. Fiz uma nova adaptação ao esquema e de novo pensei: se cada palavra desconhecida eu ler em outdoors, eu iria anotar num bloco e procuraria no dicionário depois o significado. Novamente o sistema falhou! O bloco até hoje deve está em branco e nunca viu a cor verde-esperança da caneta bic. Mas os dias foram se passando na velocidade de uma indesejada diarréia, e eu absorvendo o idioma e a cultura com uma esponja . O verão estava acabando, e a natureza faria o seu papel de mãe. As folhas das árvores começavam perder a força da fotossíntese e ameaçavam a amarelar. Era começo de setembro de 2001. O ano. O mês. E o dia que o mundo jamais esqueceria e não esquecerá por muitos e muitos tempos. 11 de setembro. Um dia triste para a estória da humanidade. O dia em que os terroristas do Taliban atacaram a América. Eu acordei no meu cotidiano. Eu peguei o trem. Fui para o trabalho. O dia começou normal. Iria ter uma grande evento a ser realizado no Lords Cricket Ground. Muita coisa para preparar. Polir pratos, copos e talheres. Organizar mesas e cadeiras. Enfim, deixar tudo pronto para a noite. Quando os terroristas atingiram umas das torres do World Trade Center a notícia em Londres foi imediata. Todos os canais de tv fizeram cobertura total. Os principais prédios da cidade foram evacuados em tempo recorde. Os ingleses deduziram que os ataques terroristas não ficariam apenas na américa. Mal saberiam eles, que os ataques à Londres estariam premeditados para 4 anos depois, em 2005, quando os terroristas explodiaram o metrô e ônibus. Nesse dia tenebroso, todos os funcionários de todas as repartições, foram mandados para casa. A confusão na cidade era geral. Enfim, não teve trabalho. Não teve festa. Todos os transportes lotados. Estava um caos. Todo mundo querendo ir para o “ lar doce e protegido lar”. Eu também! Passados dias tudo foi se acalmando mais. Mas situação econômica do país mudou da água para pinga, para não dizer vinho. Tudo piorou. Parecia que uma grande recessão tinha chegado. Ninguém entrava no país facilmente. No trabalho, até a situação voltar ao normal, levou tempo. e para alegrar um pouco a vida de cada um, o natal chegou com suas festividades e eu nunca tinha visto tanto bombardeio de propagandas de natal. Até parece que os ingleses são masoquistas e curtem tortura sonora com as músicas de noel. A ornamentação natalina é um espetáculo a parte. Por todos os lados, iluminados galhos secos brilham nas árvores, prédios reluzentes em multi-cores. Em uma das praças principais de Londres, a " Trafalgar Square" é fincada no chão, uma árvore natural gigante(foto acima) que é enviada todo ano pela Noruega como um presente. Depois do natal, a semana passou rápido já pedindo para virar de ano. "Splash out some champagne, please!!!!!" Na verdade, eu passei o reveillon trabalhando como garçon. Uma amiga paulista(Ps. Perceberam que paulistas estão participando ativamente desse blog?) me chamou para trabalhar com ela. Era uma festa para 1.500 pessoas. 150 mesas. 150 garçons. Com tanta gente na festa, a roupa de garçon(calça preta, camisa branca e a gravata-borboleta virou o famoso o meu famoso "black-tie". Eu fazia de conta que era um convidado também. Na hora da contagem dos segundos, eu e minha amiga bebemos todas e caimos na folia junto com os convidados dançando. Bye bye 2001!!! Happy New Year!! Viva 2002!!!!! O ano só estava começando, prometendo mil e umas ...

3 comments:

Kel said...

Fique a vontade...=)
Vou tentar escrever com mais frequecia no blog.Mas tb preciso de leitores para incentivos, hahaha.

Como vai de inverno? Nevou muito no domingo a cidade esta um caos.

Luis Fabiano Teixeira said...

Olá, td bem? Li com bastante atenção as suas "aventuras" profissionais aí rs. Vc as descreve muito bem e ainda deixa um suspense para que possamos voltar, gostei disso rs. Gosto bastante de Londres, embora nunca tenha estado aí. Acho que é uma cidade com uma energia criativa bem singular. Obrigado por visitar o meu blog e boa sorte! Abraçãoooooo

Adriano Queiroz said...

11/09/01 foi uma loucura em grande parte do planeta, mas aí a coisa deve ter ficado feia mesmo.

Paulista... hehehhe