Tuesday 18 November 2008

Portal Inglês

Photo: Oficial da imigração

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Quando o oficial da imigração me chamou, eu gelei. Para ser educado e gentil, lembrei das aulas do CCAA “de não muita utilidade, se não tem com quem praticar”, eu falei: Good afternoon, Sir! A voz saiu meia-trêmula. Ele prontamente e educamente falou: Good afternoon! Entreguei o passaporte cor casca de abacate, a passagem de volta para o Lisboa, o formulário preenchido e minha identidade do trabalho. Segui o conselho de meu amigo: Nunca fale mais do que o necessário. Não converse. Seja rápido e sintético. O oficial abriu o passaporte e perguntou: Where are you coming from?(De onde você está vindo?) eu falei: Brasil. Ele: ok, but where are you coming from now? Eu: aaahhhhhhhhhh sorry, from Lisbon(desculpa, de Lisboa). Ele: May I see your returning ticket to Brazil, please?(Posso ver a sua passagem de retorno ao Brasil, por favor? Eu: Ok! Ele: Are you alone?(Você está sozinho?) eu: Yes!I am( Sim! eu estou). Ele: Do you have money?(Você tem dinheiro?) eu: Yes, I have(Sim, eu tenho). Eu mostrei os 1.500 dólares de “cheques de viagem” que eu tinha comprado no Banco do Brasil em Teresina e mostrei o cartão de crédito internacional. O interrogatório durou cerca de 10 minutos. Ele checou todos os documentos, e para meu alívio, ele carimbou uma enorme estampa numa folha qualquer do passaporte e assinou me liberando. Eu feliz, pensei: Mais um súdito para a coleção da rainha. Um súdito sul-americano brasileiro do Piauí. Com a pochete na cintura, e a carteira no bolso da frente do jeans, fui atrás da minha mala na esteira. Feliz da vida, eu não acreditava que tinha conseguido. Eu estava ali no meio daquela multidão de passageiros, rindo para as malas passando como se tivessem dançando em cima das esteiras. Eu estava dormente. Finalmente minha pequena mala(minha vida) apareceu. Dentro dela além de roupas, tinha coragem, persistência, sonhos, objetivos e medo. Era como se tivesse na minha frente uma porta intergalática para o desconhecido. E que para atravessar essa porta, eram apenas alguns metros. O aeroporto de Gatwick que fica fora de Londres, no sul da Inglaterra, estava superlotado. Passageiros e transeuntes indo e vindo por todos os lados. O meu amigo que também é piauiense, já morava alguns anos em Londres e estava me esperando na estação de Victoria. Ele me passou todas as instruções, inclusive de como chegar até o “ Information Office” ( Setor de Informações) para perguntar onde pegava o trem para o centro de Londres e onde eu poderia trocar meus cheques de viagem por libras esterlinas para pagar o ticket. Supostamente era para eu pegar o trem da companhia chamada Gatwick Express. “Express” porque não tem “stop”. Do aeroporto direto para o centro de Londres na “Victoria Station” que praticamente fica dentro dos jardins do Palácio de Buckingham. A viagem dura 30 minutos. Ele avisou que a passagem poderia ser paga dentro do trem. Para mim, tudo era uma novidade. Eram 3 horas da tarde. O sol brilhava, mas estava frio. Eu entrei no trem. Como num ônibus circular, não existe poltronas marcadas. Eu sentei confortávelmente no acento que na frente, tinha uma mesa compartilhada com os outros 3 passageiros. Como se fóssemos jogar cartas. Apesar de cheio, Um silêncio pairou no ar. Como referência à educação inglesa, indelicado aquele que fala alto no trem ou metrô. O que se ouvia era apenas susurros de crianças e o barulho dos trilhos. O vendedor de tickets veio e perguntou pela passagem à todos da mesa. Automaticamente dei o dinheiro para ele e falei: - Thank you! Ele prontamente processou a máquina de tickets e me passou junto com troco, o ticket. Ele falou: - Thank you very much . Eu falei: Thank you. Ele falou: Thank you de novo. O típico inglês, se você deixar, ele repetirá “ thank you” e “sorry” o dia inteiro para você. Aos meus olhos amendoados olhando pela janela, a paisagem era espetacular. E ainda é. Mas na época, eu não estava no meu “habitat” natural do sertão e caatinga. Me deslumbrei com a beleza diferente. A vegetação parecia ser cortada por tesourinhas de manicures de salão de beleza da Avon. Eu, acostumado com as palmeiras carnaúbais e babaçus naturalmente destorcidos e desordenados, notava que as árvores e plantas inglesas pareciam milimetricamente plantadas, mescladas com as casas em formato iguais. Quando cheguei na estação, eu estava eufórico. Encontrei meu amigo. Eu feliz e aliviado de ter finalmente chegado e tê-lo encontrado. Ele feliz e aliviado de eu ter chegado e ter me encontrado. Nada pior do que esperar e ter dúvida se vai chegar. Na época, ele não tinha celular por opção, por isso, não tinha como avisar a ele se eu tinha chegado ou passado pela imigração. Enfim, eu realmente estava feliz por ter conseguido. E para comemorar, fomos para um pub in “Denmark Hill”, bairro ao sul de Londres à caminho do bairro Peckham onde meu amigo morava. Comigo na mão, a pequena mala cheia de sonhos e medos, a pochete(que dentro estava a câmera fotográfica, os cheques de viagem de 1.450 dólares, e o passaporte cor de casca de abacate carimbado com 6 meses de visto) e a carteira no bolso da frente do jeans. Quando chegamos no pub, pedimos adivinha o que? Vinho branco. Começamos a beber o vinho que estava gostoso e gelado. E lá se foram, 1 garrafa, 2 garrafas, 3 garrafas, e mais e mais. Eu repetidamente falando: Esse vinho tá docinho. Bom de beber, né? Se arrependimento matasse, eu estava queimado nas chamas com o próprio alcool do vinho. Eu explico: Quando saimos do pub, fomos direto para a casa do meu amigo caminhando. Peguei, os meus pertences e fomos embora. Já eram 9 da noite. Fomos pelo a estradinha do parque quando aconteceu a tragédia que mudaria tudo. Eu fui no inferno, vi o diabo chupando manga verde sem sal, e voltei para terra. Era como se estivesse acreditando que aquilo, não estava realmente acontecendo. O ataque de pânico foi crescendo e se alastrando dentro de mim. O tempo do baile do “cinderelo” tinha acabado e a carruagem invés de uma abobóra, virou uma jaca colossal. O pior de tudo era que…

2 comments:

Kel said...

Seu malvado...Fiquei curiosa :P
Deixa eu te contar uma novidade, eu consegui arrumar um emprego com meu ingles basicão.=)))))))
(feliz da vida!!!!)

Adriano Queiroz said...

" A vegetação parecia ser cortada por tesourinhas de manicures de salão de beleza da Avon."
"Eu fui no inferno, vi o diabo chupando manga verde sem sal, e voltei para terra."
Expressões ótimas.
Abração.